quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Parou o coração do carnaval de Mari

Carnavalesco Prêta ao lado de seu neto sendo saudado pelo Pierrot (foto montagem da redação)
Recebo bilhete do meu compadre Neneu, Diretor de Cultura de Mari, nos seguintes e enlutados termos:

Caro Fábio:

É com pesar que comunico o falecimento do amigo "Preta", carnavalesco e marcador de quadrilha junina, (cunhado do professor Edmilson Trindade). O mesmo veio a óbito na tarde de ontem (12) por volta das 14:00 horas, vítima de infarto fulminante.

O velho “Preta” já vinha cuidando de uma arritmia cardíaca e segundo o professor Edmilson, ele esperava melhorar até o carnaval, para mais uma vez sair pelas ruas da cidade com a sua charanga, na esperança de reacender as chamas momescas de nossa terra.

Abraços,

Manuel Batista
Mari/PB


Agora vamos às recordações. Quando cheguei em Mari, em janeiro de 1988, Preta foi uma das primeiras pessoas que veio dar as boas vindas. Recebi o Preta na estação ferroviária, e acabei comprando a fantasia do seu bloco carnavalesco.

Preta era um amante ardoroso dessa festa, e de todas as festas. Gostava de carnaval, São João, Reis, Ano Bom, aniversário, cachaçada, batucada e qualquer reunião alegre para fins de divertimento. Até enterro com Preta era animado.

Não sei se vai ter batucada no seu próprio enterro. Acho que não, pois isso seria uma violação aos costumes funerários locais, mas bem que o meu compadre Preta apreciaria uma charanga acompanhando seu último desfile.

Sem deixar de abordar nesse papo de saudade o meu compadre Apaga Luz, que era uma espécie de Lugar Tenente do Preta, ritmista, cachacista e grande figura humana. Morreu de mé, como também morreu Dedé, seu ajudante de ordens no bar do Nelson.

Constato assombrado que todos os meus bebinhos estão se mandando pra o andar de cima. Será que estão planejando uma grande festa por lá, e para isso as autoridades celestiais estão convocando os nossos festeiros?

Tenho pra mim que gente do tipo de Preta é mais importante numa comunidade do que o prefeito. Mesmo porque o cara jovial, prazenteiro e alegre gera expectativa de vida e ventura. Já o prefeito, o que mais produz é imposto, normas regulamentares, proibições e o mais terrível dos desencontros: o do cidadão com sua cidadania aviltada.

Faltam-me maiores dados biográficos sobre o festeiro Preta. Nem tenho uma foto dele, vestido de Rei do Carnaval, comandando a tropa alegre dos cachacistas marienses.

Parte meu compadre Preta para essa viagem absurda. Mas, pensando bem, para um folião do seu nível, viver sem poder carnavalizar a vida por causa do coração achacadiço é uma forma interina de morrer.

Adeus, Preta. O surdo mestre toca silêncio...

Fábio Mozart

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