Já faz algum tempo que rolam discussões sobre arte, cultura e educação, mas nestes últimos tempos de educação confusa o que se tem visto com mais frequência é o uso de gibis e de cordéis, no estimulo a leitura, apesar de pouco explorado pelos profissionais em salas de aulas e mais por agentes culturais voluntários em ambientes diversos. Não sei quanto tempo as autoridades educacionais irão levar para perceber que nossos alunos não sabem ler, principalmente os que concluem o ensino médio, com raríssimas exceções. Mas a conta por esse fracasso não deve ser anotada apenas no boletim do aluno ou no caderninho dos pais, deve ser dividida também com os mestres, responsáveis diretos por essa árdua tarefa. Ninguem aprende a ler ou se torna leitor se a literatura não lhe for apresentada como algo agradável, mais agradável que necessária, minimizando o peso do conteúdo dos livros que, em sua maioria tem péssima apresentação que só de olhar assusta qualquer aluno. E não são apenas os livros que assustam os alunos, na rede publica de ensino as fachadas dos prédios também são um horror! O uniforme de tecido barato e costura repuxada também combinam com copos, pratos e talheres de propileno azul, fechando a visão dos horrores que acaba com o interesse de qualquer aspirante a cidadão, que se esforça apenas para conseguir uma nota que o faça passar de ano e pensar que quanto mais tempo ficar fora da sala de aula, melhor. Tem escola que dá gosto, as que são equipadas com videoteca, biblioteca com títulos variados, literatura infantil, títulos ricos em ilustrações, gibis e cordéis, funcionários ou servidores que se comunicam com a comunidade estudantil e mostram que vale a pena estudar, tire de letra aquelas figuras que vivem xoramingando pelos cantos reclamando da vida e do trabalho. Finalmente, lembraram do velho Paulo Freire, e, pelo menos em João Pessoa, o EJA, Educação de Jovens e Adultos, leva a sério a chamada educação popular, introduzindo como ferramenta de estimulo a leitura a Literatura de Cordel que é um tipo de poema popular que agrada a todos. Mas não basta apenas formar grupos de leitores ou ouvir contadores de estórias, é preciso estar atento na hora de escolher os livretos que vão alegrar e despertar os participantes para o hábito da leitura, evite os cordéis intelectualizados, dê preferência aos mais rústicos, mais populares, materialize um poeta da roça à sua frente, ouça suas palavras primitivas cheias de sabedoria, essa é a legitima Literatura de Cordel, não esqueça nunca que não se faz poeta popular em laboratório, e o que precisamos é subsidiar o ensino da leitura dentro da chamada “Perspectiva sociointeracionista e discurssiva”, através do Cordel. Quando os métodos tradicionais falharem aprenda pela arte, o importante é “Pegar” gosto pela leitura, saiba escolher seus autores e aqui dou as primeiras dicas para aquisição de um bom Folheto. Alguns excelentes cordelistas: Apolonio Alves dos Santos, Arievaldo Viana Lima, Cego Aderaldo (Aderaldo Ferreira Araujo), José Verissimo, Elias A. de Carvalho, Expedito Sebastião da Silva, Firmino Teixeira do Amaral, João Ferreira de Lima, João Melchiades de Ferreira, José Camelo Resende (Romance do Pavão Mysteriozo), José Costa Leite, José Pacheco (A chegada de Lampião no Inferno), Manoel Camilo dos Santos, Patativa do Assaré, Zé da Luz (Ai se sêsse) e muitos outros.
Ái se Sêsse (Zé da Luz)
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse
Nilson Sótero
Fonte: www.pbnews.com.br
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