“É um filme para falar dos efeitos da ditadura dentro da casa das pessoas”. É assim que o cineasta Luiz Villaça define seu novo trabalho, “Primavera Num Espelho Partido”, baseado no livro homônimo do uruguaio Mario Benedetti (1920-2009), autor de obras como “A Trégua” e “Correio do Tempo”. Publicado no início da década de 1980, o romance centra-se na figura de um guerrilheiro que vai preso e em sua mulher, que é obrigada a mudar de país em companhia do sogro.
Villaça conta que teve contato com o livro há cerca de três anos, quando começou a preparar o quadro “Te Quiero América”, exibido no Fantástico em 2007. “Foi uma descoberta tardia para mim, mas muito benvinda. Fizemos worshops sobre literatura latinoamericana, e o Benedetti foi um dos autores mais explorados. Gostei tanto que li tudo dele. Mas o que mais me chamou a atenção foi o ‘Primavera Num Espelho Partido’”, disse ao UOL Cinema.
Villaça, que trabalha no roteiro desde o ano passado, conta que já fez algumas modificações na história original. Ainda não sabe o que terá de adaptar quando começarem as filmagens. “Eu incluí o Brasil na história, por exemplo. O período sombrio das ditaduras militares é bem parecido em toda a América Latina. Não pretendo falar da tortura e torturadores, mas daqueles que foram torturados, das famílias que foram destruídas. Será como levantar os telhados e olhar dentro das casas”.
O filme será falado em português e espanhol, e é uma produção entre Brasil, Uruguai e Argentina, trazendo no elenco atores dos três países. Até o momento foi confirmada apenas Denise Fraga, mulher do diretor, que interpretará o principal papel feminino. “A maioria das pessoas conhecem a Denise das novelas e humorísticos da televisão. Mas ela é muito versátil, e uma excelente atriz dramática, que fez muito teatro e cinema.” Para conferir, basta ver sua performance no recente “As Melhores Coisas do Mundo”, de Laís Bodanzky, em que fez a mãe do protagonista, um adolescente.
Denise, que também é fã da obra de Benedetti, explica que o que mais a atraiu no livro foi a sutileza com que o escritor usa a política para falar das relações humanas. “Ele se vale do pequeno para abordar o grande. “É uma história que passa pela emoção cotidiana. Será um filme que usa a ditadura para falar dos sentimentos estabelecidos pelo exílio”.
A atriz viveu uma ex-guerrilheira com traumas deixados pela tortura na minissérie “Queridos Amigos” (2008), mas conta que as personagens são bastante diferentes. “Apesar do período histórico ser mais ou menos o mesmo, cada uma delas tem uma relação diferente com a ditadura. Mas, claro, as histórias se reverberam”.
Villaça trabalha no projeto há cerca de quatro anos e pretende filmar até o início de 2012. “Fiz ‘O Contador de Histórias’ (seu filme anterior, de 2009) com o ‘Primavera...’ na minha cabeça”. Ele explica que, inclusive, foi divulgar aquele filme no Uruguai, onde conheceu muitos fãs do Benedetti que ficaram empolgados com a adaptação do romance. Mas ele e Denise confessam que ainda falta captar uma parte do orçamento. “Ainda estamos tentando conseguir todo o dinheiro para fazer o filme, por isso estamos abertos a contatos de interessados”, conta a atriz.
Com informações de cinema.uol.com.br
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