- Imagem do documentário ''Santos Dumont: Pré-cineasta?", de Carlos Adriano
O material encontrado com imagem de Santos Dumont e Charles Stewart Rolls (futuro dono da marca Rolls Royce), datado de 1901, é o ponto de partida deste registro afetivo de uma das paixões do diretor Carlos Adriano: o primeiro cinema, feito entre 1895 e 1905. O filme ''Santos Dumont - Pré-Cineasta?" parte da descoberta de raro carretel de fotografias, reproduzidas de um filme-mutoscópio (conjunto de desenhos ou fotografias que, quando exibidos em sequência, davam a ilusão do movimento) produzido em 1901, sobre o famoso aviador.
No documentário de 63 minutos - exibido fora de competição -, Adriano adota a mesma estrutura que podemos ver em quase todos os documentários contemporâneos: intercala imagens de arquivo, entrevistas e imagens ensaísticas, que ilustram o tema. Mas o modo como ele constrói essa estrutura é tão sólido que fica difícil cobrar algo mais ousado. Para começar, há, desde cedo, a dissociação entre o que está escrito e o que está sendo narrado, fazendo um ruído dos mais interessantes e quebrando a harmonia que poderia surgir com o encadeamento das imagens. A harmonia acontece de maneira diferente, inesperada, como num milagre da junção de coisas opostas.
Há, por exemplo, silêncios que pontuam alguns momentos de forma incisiva, como num lamento fúnebre (pela morte do cinema e do companheiro). Há, também, uma espécie de música criada pelo ritmo das sucessões inteligentes de imagens de arquivo, estáticas ou não. Essa inteligência da edição é rara de se ver. Representa um caminho possível dentro da convenção, uma concessão ao formato tradicional do documentário, mas com uma porta aberta para a experimentação.
Pensando mais propriamente no conteúdo, nas ricas informações e especulações que o filme fornece, "Santos Dumont - Pré-Cineasta?" também é feliz. Os diversos entrevistados compõem um amplo painel do pensamento cinematográfico: Ken Jacobs, Nicole Brenez, Paul Spehr, Henrique Lins de Barros, Ismail Xavier, Eduardo Morettin, entre outros. As imagens dos primórdios do cinema, apogeu dessa arte, segundo o diretor, ajudam a promover esse retorno ao passado. São trechos de filmes dos irmãos Lumière, de Georges Méliès e de outros pioneiros que pontuam o filme conferindo-lhe uma aura de relíquia histórica, como se estivesse inserido naturalmente entre os trabalhos do início do cinematógrafo.
-
Santos Dumont em imagens do curta-metragem ''Santoscópio = Dumontagem''
Outro filme de Carlos Adriano exibido no É Tudo Verdade é o curta "Santoscópio = Dumontagem", um complemento a "Santos Dumont: Pré Cineas", feito a partir do material encontrado. A imagem de Dumont mostrando seus planos a Mr. Rolls é trabalhada numa imensa gama de variantes cromáticas, formais, geométricas, com alterações de velocidade e efeitos à Méliès, em mais uma homenagem do diretor aos primórdios do cinema. Um caleidoscópio interessante, mas um pouco longo e cansativo (algo que "Santos Dumont - Pré-Cineasta?" está longe de ser).
Os 15 minutos do curta não chegam perto da excelência de uma única sequência do longa, mas talvez lhe confiram uma importância ainda maior, pois comparamos as imagens achadas do aviador com a pesquisa e a reflexão feitas em torno da descoberta e ficamos com um rico retrato de uma boa pesquisa cinematográfica.
Fonte: cinema.uol.com.br
Os 15 minutos do curta não chegam perto da excelência de uma única sequência do longa, mas talvez lhe confiram uma importância ainda maior, pois comparamos as imagens achadas do aviador com a pesquisa e a reflexão feitas em torno da descoberta e ficamos com um rico retrato de uma boa pesquisa cinematográfica.
0 comentários:
Postar um comentário