quinta-feira, 14 de abril de 2011

Pesquisador paraibano lançará livro sobre obra polêmica de Monteiro Lobato

O professor universitário e pesquisador paraibano Simão Farias Almeida lançará o livro Monteiro Lobato e a problemática da nação: um projeto dialógico e negociado, no próximo dia 28 deste mês, na Fundação Casa de José Américo.
A comemoração, na próxima segunda-feira (18), do Dia Nacional do Livro Infantil é oportunidade de lembrar Monteiro Lobato, o autor de sua maior expressão no país, até porque a data foi escolhida por ser seu aniversário de nascimento. Vira e mexe Monteiro Lobato volta a ser discutido em conversas e debates, seja em ocasião de adaptações das suas obras para a televisão, seja por meio de polêmicas em torno de temas trabalhados por ele principalmente nas estórias do Sítio do Picapau Amarelo. O pesquisador mostra em seu trabalho que é preciso livrar o escritor jornalista de outros estigmas.
Em outubro do ano passado, parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão independente do Ministério da Educação (MEC), aconselhou a não circulação do seu livro “Caçadas de Pedrinho” nas escolas públicas devido a presença de comentários racistas do narrador em relação à personagem de tia Nastácia. O parecer provocou defesas e críticas de professores, artistas e intelectuais sobre o politicamente correto e a livre representação social na literatura.
“Acusado de racismo por discursos de seus personagens contra Tia Nastácia, misoginia no comentário em relação à exposição vanguardista da pintora brasileira Anita Malfatti, anos antes da Semana de Arte Moderna, mero escritor regionalista e infantil ao criar o universo ficcional do Sítio do Picapau Amarelo, anti-nacionalista ao criticar o estilo de vida caboclo do Jeca Tatu, Lobato, seus artigos e narrativas precisam perder essas etiquetas para então revelar uma personalidade e uma escrita engajadas com os debates nacionais de sua época”, adianta Simão.
Segundo o autor, o livro analisa a preocupação recorrente dele com a independência política, econômica e cultural do Brasil para se tornar uma nação de fato nos primeiros quarenta anos do século XX. Lembra também que sua crítica em jornal ou em livro não se livrou do contraditório ao sugerir esquecer o passado de país colonizado, de país imitador da França e dependente da Inglaterra, e ao elogiar a imitação da economia e da sociedade dos Estados Unidos. “Na verdade, o escritor, jornalista e intelectual não queria parecer cair em paradoxos, quando na verdade queria defender um novo modelo de progresso para seu país, seja através da exploração do petróleo sem interesses estrangeiros, seja através da imitação cultural”.
A análise de Simão Farias privilegia a crítica de como Lobato representou as dificuldades do Brasil ser considerado uma nação na obra A Chave do Tamanho, publicada em plena Segunda Guerra Mundial. O momento era de forte nacionalismo em torno da participação do país nos combates bélicos, mas o escritor, com seu estilo irônico, mostra um país dividido em torno de um projeto autêntico para um mundo sem guerras. Na obra, Emília tenta acabar com o conflito armado desligando a chave da guerra, porém ela abaixa a chave errada, reduzindo o tamanho da humanidade em 40 vezes, provocando novos problemas como a dependência de pequenos insetos, para se locomover e não morrer de fome, mas também a falta de perspectiva de vida diante o ataque destes mesmos insetos. Os personagens então votam num plebiscito pela permanência da situação tão trágica quanto a guerra ou pela volta do tamanho da humanidade.
“Trata-se de uma estória ousada ao tocar em temas como autoritarismo, democracia e liberdade num momento delicado da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas e do apoio aos países aliados na guerra. Não é à toa que é considerada a melhor obra do Sítio do Picapau Amarelo. É atual porque voltamos a uma situação onde o mundo discute a guerra como meio de imposição da democracia, caso dos bombardeios ocidentais às tropas do ditador Muammar Kadaffi na Líbia”, destaca o autor.
O livro de Simão Farias, com 185 páginas, é fruto da sua dissertação de mestrado concluída na Universidade Federal da Paraíba. A análise da presença de temas políticos no universo tão mágico do Sítio do Picapau Amarelo é uma boa pedida para professores, bibliotecários, pesquisadores das ciências humanas e amantes da literatura. O lançamento acontece às 18 horas do dia 28, na Fundação Casa José Américo, localizada na praia do Cabo Branco.
Perfil do autor – Natural de João Pessoa e apaixonado pelas suas duas áreas de formação, Letras e Comunicação Social, Simão é professor do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Roraima (UFRR), mestre em Literatura Brasileira e doutorando em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Paraíba. Iniciou a trajetória de escritor em 2009, com o livro De literatura e cinema, contendo contos, poemas e roteiros de curta e longa metragens. A seguir publicou Tramas de sujeitos e identidades, com teor de crítica, ficção, literatura, jornalismo, televisão e cinema.

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