quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O circo quer dignidade !

A Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura, realizada no último dia 07, na FUNARTE SP, deixou explícita a falta de apoio e valorização do Circo pelo Governo Brasileiro. Visando auxiliar os circenses e defender esta cultura popular, após discorrerem na Frente Parlamentar sobre atual cenário político, econômico e cultural em que se encontra o Circo,  Bel Toledo e Marlene Querubim escreveram um artigo pontuando as dificuldades encontradas pelas atividades Circenses.Segue artigo :

O circo está em alta. Está no cinema, está no teatro e todos vão beber nessa fonte, o circo itinerante, tradicional.  A profissionalização e a renovação estética ganham força com as diversas escolas que surgem todos os dias pelo país. Hoje já não é preciso nascer dentro do circo para fazer parte desse universo, basta apenas se profissionalizar.

A atividade circense no Brasil é imensa: movimenta cerca de mil companhias de circo, entre grupos, lonas e de variedades, com uma média de 25 profissionais cada uma, itinerando pelo país e fazendo em média cinco espetáculos por semana. Isso representa, semanalmente, 25 mil artistas e técnicos apresentando 10 mil espetáculos circenses para um público de quase dois milhões de espectadores pelo país afora, chegando a rincões que só nós levamos atividade cultural.

Os eventos da área também atraem um público grande e diversificado. Um exemplo é o Festival Paulista de Circo, que já está em sua 4ª edição. A última, produzida em abril deste ano, gerou trabalho e renda para mais de 500 artistas e reuniu mais de 35 mil pessoas em cinco dias de espetáculos.

Mesmo com números tão significativos as políticas públicas voltadas para o circo ainda são ínfimas. Por parte do governo federal temos apenas um edital especifico para o circo, o Carequinha, porém a verba ainda é insuficiente para suprir a grande necessidade do setor.

No nordeste do país, por exemplo, temos circos em situações miseráveis, sem recurso algum para se manter. Vivem apenas da baixa bilheteria, que muitas vezes chega ao valor máximo de R$ 3,00. Muitas dessas companhias encerram suas atividades ou vivem sem nenhuma dignidade.

O circo é tratado de uma maneira pejorativa, sem políticas estruturantes e sem respeito. E essa atual gestão da Funarte não estabelece diálogo, em dez meses de governo não apresentou qualquer proposta e absolutamente nenhuma ação de fomento foi realizada. O departamento de Circo não tem funcionários, equipamentos e praticamente nenhuma estrutura para dar atendimento e para fazer o papel da Funarte, que é de organizar o dialogo, assim como o de atuar na transformação e desenvolvimento cultural, no processo coletivo de reflexão e ação e no fortalecimento da identidade. Não existe nenhuma ação de base.

Exemplo disso é a Escola Nacional de Circo que, com professores defasados, desestimulados, vive uma situação de penúria e não cumpre seu papel de fortalecer a atividade e de qualificar os artistas do circo.

O presidente da FUNARTE, Antonio Grassi, declarou para uma platéia de mais de 60 pessoas, em um encontro na Fundação em SP, que o edital do governo passado Pró-cultura/lonas de circo seria pago em agosto. Até o momento nada, e mais uma vez não recebemos nenhuma satisfação e ninguém sabe quando o pagamento será efetuado.

A Europália, evento realizado em conjunto com o governo Belga, levou representantes dos seguimentos artísticos da música, dança e teatro. Foram mais de 90 grupos para se apresentar com um orçamento de 32 milhões de reais, e o circo, depois de muita “gritaria”, ficou praticamente de fora, pois os únicos dois representantes escolhidos não expressam o universo circense.
A classe é grande. Merece ser respeitada pela sua importância histórica e não podemos mais aceitar que o circo seja desvalorizado. Tal falta de ação continuada nos enfraquece, essa é a política atual do calar. É hora de o circo ficar visível para o poder público! Estamos nos reinventando, nos recriando, nos renovando e sabemos que, com uma política mínima de estruturação, vamos  dar um grande salto.

Bel ToledoPresidente da Cooperativa Brasileira de Circo
Marlene Querubim Vice Presidente da União Brasileira de Circo

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